Mas nem por isso estou feliz.
Ainda vou sentir falta das quase 3 horas diárias de viagem.
Custava levantar tão cedo, sabendo que podia chegar tão tarde.
Mas sabia bem aquela aceleração matinal para não perder o comboio. Fazia-me sentir viva!
E depois, já dentro do comboio, o primeiro, e dentro do seguinte, o que apanhava 25 minutos depois, como era bom sentar-me do lado direito e ver como o pequeno riacho crescia, crescia, crescia, até se transformar em rio; e ver como o comboio lhe seguia os contornos, como fazem as mãos reticentes do homem inexperiente que toca a mulher pela primeira vez; e ver o rio fumegar, anunciando a chegada de um sol que se fazia esperar.
E mesmo no flanco esquerdo, quando no direito não havia lugar a jeito, voltar as costas à janela e observar por detrás dos óculos escuros os exageros de maquilhagem das meninas quasi-mulheres; e, atrás dos mesmos óculos, ocultar a secreta satisfação de sentir os olhares masculinos estudar-me a fisionomia; e tirar dicas de leitura a partir dos títulos que se passeiam em outras mãos; e ler; e ouvir música; e dormitar.......e começar o dia já com um universo de experiências em cache.
Mas vai saber-me bem dormir mais um pouco. E deixar de ver umas imensas olheiras no espelho do elevador.
À falta de melhor programa para um sábado à noite, decidi rever "Blood Diamond" (rever não será bem o termo, dado que da primeira vez não o vi até ao fim...).
O filme em si dispensa comentários: todos os elogios que ousasse tecer pecariam por defeito.
Mas a entrevista com Edward Zwick activou-me o alarme ético-moral. Falando sobre o fundamento da história, dizia o realizador que as nossas acções vulgares têm implicações na vida de milhares de pessoas: acções triviais como simplesmente usar um cartão bancário. Senti a minha cabecinha a piscar luzinhas vermelhas, sinalizando a culpa por que respondo por via de compras como os ténis Nike em que me viciei, ou mesmo as camisolinhas Zara que ostentam um vergonhoso "made in China", "made in Bangladesh", "made in India".
Duplo crime: a aquisição em si, porque o produto é 'sujo'; mas mais grave, o entorpecimento da consciência - porque é tão mais cómodo fazer de conta que não sabemos de nada.
Estou exausta. Mas sinto-me bem.
Sinto que de algum modo controlo a situação, que de algum modo tenho o meu futuro nas minhas mãos.
E isso é bom.
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